Pular para o conteúdo principal

APARELHAMENTO DA IMPUNIDADE

                                   

Houve um tempo em que os inimigos eram condenados à força. Todo um aparato era constituído para que desse segurança institucional ao ato. Testemunhas escolhidas a dedo... de ouro, juízes im... parciais, reunião de provas in... contestáveis. Tudo isso preparado, exclusiva e temporariamente, para perseguir e punir os contrários à realeza. Na ponta de lança desse dispositivo legal, aparece o carrasco – aquele que aciona o cadafalso –, a única peça do aparelho oficial que mal pensa, só executa o que a sua função exige.

Depois da execução (ou execração?) pública dos inimigos, como numa limpeza a jato, a nobreza – subproduto do discurso politicamente correto – retorna à sua rotina, e todo o aparato é desmontado, peça por peça, sem muito alarde, para que só reste na memória da plebe a figura do carrasco. Este leva toda a culpa das execuções, enquanto os verdadeiros responsáveis pelos julgamentos falseados seguem impunes vida afora, e os condenados renascem, como fênix, das cinzas para a glória pública, rindo dos crédulos espectadores daquela trágica cena – 1º ato do final de uma típica comédia pastelão em uma republiqueta.

Criado em: 08/09/2020 Autor: Flavyann Di Flaff


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...