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SÚPLICAS DE SALVAÇÃO

Arteiro que sou, novo ofício da pós-modernidade, faço arte motivado pelo patológico ócio existencial. Este consome o espaço abissal da psique, levando à produção em massa de conteúdos próprios da abstração do bom-senso.

Exponho, apóstata sem convicção que sou, da próstata até a vulva, a depender da convulsão em que estou das coisas momentâneas que me cercam. Às vezes, a bílis de cada dia, fruto das fugas dionisíacas dos problemas que, se enfrentados e resolvidos, levar-me-iam a um degrau a mais no processo evolutivo como ser humano. Noutro dia, exponho a construção abstrata de pelos (juba e pentelhos), apelos de quem quer ser visto pelo avesso, não pelo que está exposto. Todavia, os expectadores não estão dispostos a pensar, decifrar a metáfora que os timbales fazem ecoar em altos decibéis a fim de que alguém coopere com o nascer de uma nova criatura em mim.

Entediado, decido expor a verdade absoluta dos ensinamentos alheios, todos distantes de suas próprias realidades, contudo sempre ditos, coercitivamente, como verdades absolutas. Por isso, as escrevi com palavras fortes, de traços fortes, de coloridos fortes, de sentidos fortes – armadura para seres fragilizados –, mas questionáveis e abaláveis pelos outros pares e ímpares.

Nessa exposição pandêmica nonsense, só não exponho o coração, porque, de retalhos em retalhos, construiu-se uma colcha semelhante ao tapete mágico, capaz de me transportar para lugares dos quais não quero retornar jamais. Aqueles são relíquias de um corpo chagado, que só de olhá-las já me paralisa, tocá-las, então, é converte-me de novo à dor sentida. Afinal, fragilidades não são reveladas, não para olhos nus, para estes, elas são externadas sempre caracterizadas por uma força descomunal, invencível. Metáfora que só os olhos vestidos de sensibilidade humana, ainda imaculados, podem decifrar, descobrindo, percebendo, no meio dessa matrix patológica, o real pedido de socorro inserido nela.

Criado em: 07/03/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

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