Depois da execução (ou execração?) pública
dos inimigos, como numa limpeza a jato, a nobreza – subproduto do discurso
politicamente correto – retorna à sua rotina, e todo o aparato é desmontado,
peça por peça, sem muito alarde, para que só reste na memória da plebe a figura
do carrasco. Este leva toda a culpa das execuções, enquanto os verdadeiros
responsáveis pelos julgamentos falseados seguem impunes vida afora, e os
condenados renascem, como fênix, das cinzas para a glória pública, rindo dos
crédulos espectadores daquela trágica cena – o 1º de dois atos de um final da comédia pastelão mais badalada da republiqueta.
Com a efetivação do desmonte da máquina de justiça, fazia-se necessária a continuação do cumprimento dos acordos feitos durante aquela mágica era de caça às almas sebosas da imoralidade. Assim, a mesma turma que agilizou aquele tornou a agir, mostrando o alinhamento com os interesses “nacionais”. De forma acirrada e com embates orais calorosos, todos imparciais, decretaram a suspeição do carrasco “chapa branca”, a partir disso as ações por ele realizadas perderam o valor e o que fez é desfeito, beneficiando quem de réu nada tem, uma vez que apenas cumpriu o seu papel predeterminado na matrix criada pelo poder do qual fora destronado. Tudo o que fez ou lhe foi atribuído, não mais existirá, tornando-se, em suas próprias palavras, no mais honesto cidadão. Com tal metonímia processual, abre-se jurisprudência para as demais ratazanas do Estado democrático de direito. Nas esferas de poder que existem em qualquer sociedade, a troca não é passiva, muito pelo contrário, só acontece por meio de uma ruptura democrática de direito, criada através de jogadas sutis provenientes da máquina oficial, e quando isso acontece, quem do poder se apossa, assim anuncia, por quinze vezes: “O Estado sou eu!”. Afinal, o combinado não sai caro, e a conta vem sempre a galope, a cada quatro anos, para todos do imenso curral eleitoral – ato final dessa típica comédia pastelão.
Criado em: 23/03/2021 Autor:
Flavyann Di Flaff
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