Recordo-me
de nós, quando ainda éramos, simplesmente, palavras soltas numa tela de
computador. Eram noites infindas de fins de semana repletas de diálogos
descompromissados, mas recheados de alegria, ingenuidade e amizade.
Lembro-me
das vezes, quando, por algum motivo fútil, brigávamos. Passávamos meses sem
conversar, porém o engraçado era que, mesmo assim, estávamos sempre presentes
no mesmo chat. Falávamos para os colegas virtuais que ali se encontravam, que
nunca mais voltaríamos a dialogar um com o outro e, ingenuamente, comentávamos
detalhes que motivaram a intriga. Os colegas, sacanas que eram, apimentavam
ainda mais o que a gente começara. No final, acabávamos por retomar a nossa
pacífica convivência virtual, descobrindo, mais tarde, que deixamos ser
manipulados por todos eles.
Parecia
coisa de maluco, já que tudo ocorria no mundo virtual da internet. Eram
amizades que surgiam ou se acabavam, eram emoções encenadas, eram frases
plagiadas e ditas como se fossem feitas na hora, eram fofocas fictícias feitas
apenas para envenenar uma relação que há muito existia. Assim era no tempo em
que começávamos a nos conhecer.
O
tempo passou, e de apenas palavras numa tela mórbida passamos a conviver de
forma real, prontos a tudo descobrir, sentir e dividir com o outro. Dessa
forma, fomos vivenciando o que antes só tínhamos expressado em palavras.
Foi
em um encontro há muito planejado, porém sempre evitado, talvez, por puro
receio de ambos, visto que muito especulávamos a respeito. Involuntariamente,
teimávamos em querer adivinhar a reação do outro quando estivéssemos frente a
frente. Pura bobagem, uma vez que, quando nos vimos, parecia que já nos
conhecíamos há tempos.
Só ao longo de outros encontros é que fomos descobrimos,
de verdade, o sentimento que, lá na tela, já cultivávamos, contudo, ele necessitava
de um reforço para poder brotar. Este reforço se chamava convivência pessoal
diária, depois dele, nunca mais fomos os mesmos.
Hoje estamos em um relacionamento firme e, por isso, a
internet já não é mais um meio de fuga ou de busca, transformou-se em algo
supérfluo em nossas vidas. Entretanto, dizer que não a utilizamos mais é pura
mentira. Ainda usamos o e-mail, pois não esquecemos daqueles que estiveram
presentes durante estes longos três anos de convivência virtual, e matar a saudade
deles é sempre bom. Porque, afinal, tudo o que desfrutamos na vida faz parte de
um longo aprendizado existencial.
Graças
a esta modernidade, conhecemo-nos e criamos essa união. Realizamos o que foi
encenado, só que agora, com a segurança de estarmos lado a lado, para
dialogarmos sempre. Tendo, atualmente, uma confiança plena nos atos de um para
com o outro, coisa que no mundo virtual jamais poderíamos ter.
Hoje podemos dizer, enfim, que o nosso sentimento, por ser forte, transpôs o limite entre os dois mundos distintos: o virtual e o real.
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