Habito em um mundo onde, para cada
histeria, há um pastor a nos guiar. São tantas as versões de um só deus, que
criaram outros deuses para cultuar, já que o céu nasceu para todos. O sol da
justiça só bronzeia aquele sem cor, para os que já a têm, não precisam mais
dele, podem andar na obscuridade.
Neste mundo de reis e rainhas, deuses e
deusas, não há crença, apesar de todos serem religiosos. Nos templos erguidos
por douradas palavras – ouro de tolo –, o amor aboletou-se e lá ficou. Depois
da idolatria, ele parece não acompanhar quem daqueles saiu. Prefere ater-se aos
púlpitos sob o verniz da oratória, nos quais muitos dos santos dão testemunhos
de uma vida de valor – ouro alheio –, uma vez que este não reflete a verdade de
suas ocas vidas.
O espelho disputa com a moeda o posto de
metáfora contemporânea dos valores. Assim segue a rotina deste mundo em um
fluxo alucinante.
Peitos e bundas, ostentação e farras,
marginalidade e libertinagens influenciam essas gerações idolatras, amantes das
ditaduras do corpo, do consumismo, da liberdade irresponsável, de abjetas
ideologias, dos cheios de direito e questionadores de deveres.
Eu, impotente diante da potência dos
senhores das lutas, eternas contradições e criações sociais, faço-me espectador
diante da convocação dos recrutas-cadáveres (vibrantes morrentes de causas
renováveis e rotuláveis).
Quando chegará a paz absoluta neste mundo, não sei! Mas até lá, seremos aliciados para inúmeros e distintos jogos de luta – banalizadores da realidade civil – que ratificam a ideologia de que as mudanças só ocorrem por meio de ações contrárias ao que está posto, e não pela reafirmação dos valores que há muito foram esquecidos ou distorcidos. Tais jogos – oriundos da luta pelo poder vigente –, propositadamente, cega-nos diante daquilo que já nos é garantido, fazendo-nos crer que nada conquistamos. Portanto, como mortos e feridos, nesses joguinhos, sobreviveremos para experienciarmos a mais uma nova fase da catástrofe humana.
Criado em:
02/05/2021 Autor: Flavyann Di Flaff
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