Pular para o conteúdo principal

JOGOS DE LUTA

Habito em um mundo onde, para cada histeria, há um pastor a nos guiar. São tantas as versões de um só deus, que criaram outros deuses para cultuar, já que o céu nasceu para todos. O sol da justiça só bronzeia aquele sem cor, para os que já a têm, não precisam mais dele, podem andar na obscuridade.

Neste mundo de reis e rainhas, deuses e deusas, não há crença, apesar de todos serem religiosos. Nos templos erguidos por douradas palavras – ouro de tolo –, o amor aboletou-se e lá ficou. Depois da idolatria, ele parece não acompanhar quem daqueles saiu. Prefere ater-se aos púlpitos sob o verniz da oratória, nos quais muitos dos santos dão testemunhos de uma vida de valor – ouro alheio –, uma vez que este não reflete a verdade de suas ocas vidas.

O espelho disputa com a moeda o posto de metáfora contemporânea dos valores. Assim segue a rotina deste mundo em um fluxo alucinante.

Peitos e bundas, ostentação e farras, marginalidade e libertinagens influenciam essas gerações idolatras, amantes das ditaduras do corpo, do consumismo, da liberdade irresponsável, de abjetas ideologias, dos cheios de direito e questionadores de deveres.

Eu, impotente diante da potência dos senhores das lutas, eternas contradições e criações sociais, faço-me espectador diante da convocação dos recrutas-cadáveres (vibrantes morrentes de causas renováveis e rotuláveis).

Quando chegará a paz absoluta neste mundo, não sei! Mas até lá, seremos aliciados para inúmeros e distintos jogos de luta – banalizadores da realidade civil – que ratificam a ideologia de que as mudanças só ocorrem por meio de ações contrárias ao que está posto, e não pela reafirmação dos valores que há muito foram esquecidos ou distorcidos. Tais jogos – oriundos da luta pelo poder vigente –, propositadamente, cega-nos diante daquilo que já nos é garantido, fazendo-nos crer que nada conquistamos. Portanto, como mortos e feridos, nesses joguinhos, sobreviveremos para experienciarmos a mais uma nova fase da catástrofe humana.

Criado em: 02/05/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff