Pular para o conteúdo principal

FRUSTRAÇÃO REVISITADA

Como em um álbum de velhas fotografias, ali estava ela estática a me olhar. Um holograma que reproduzia, perfeitamente, alguém presente em uma fase da minha vida. Não mudara em nada no que diz respeito à época vivida, como se quisesse levar-me, conscientemente, a um tempo de muitas descobertas. Não me assustei, talvez por estar com a sensibilidade aflorada devido às baladas de outrora, as quais estava a escutar vorazmente.
Ela continuava ali, presença insistente, querendo convencer-me a embarcar nesta viagem saudosista e eu, que pelo momento quase fui traído, tenho um lapso de consciência, o que faz lembrar-me do exato instante em que a vi pela primeira vez. Tudo veio à tona em segundos e o que prevaleceu naquela época, também foi mais forte no presente: a timidez. Essa indelicada conselheira me fez hesitar novamente e vi toda a frustração de outrora se repetir. Nessa hora, a música que começa a tocar é a mesma daquela circunstância, o que faz com que retorne à realidade e chore, só que agora de forma sofrida, não por imaturidade, mas por arrependimento.

Criado em: 28/03/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...