Pular para o conteúdo principal

PAQUERA NO ÔNIBUS

         Três horas, espero o ônibus. Muita gente, umas iguais, outras diferentes. Euforia, chega o ônibus. Correria, porta, escada, todos entram. Passagem, roleta, dianteira, cadeira.

          Movimenta-se o ônibus. Vejo, em um breve percurso, paisagens urbanas passando, e, a seguir, chega mais uma parada. Novas pessoas sobem. Os meus olhos fitam alguém, é uma garota graciosa e interessante. De repente, nossos olhos se cruzam, mensagens silenciosas são trocadas, talvez, o amor. Surge um desejo de diálogo, mas nos faltam palavras. Restando, apenas, olhares interessados de corações apaixonados.

          Uma nova parada chega, eis que desce a garota bela. Entro em desespero. Corro à janela, lanço um último olhar e um aceno triste, que logo é retribuído. Tal momento é bem guardado e retorno, novamente, à solidão interior do coletivo.

          O coração, esperançoso, pensa em um reencontro. Quem sabe, em um dia qualquer, noutra viagem, aquela garota, de novo, entrará sorridente no mesmo ônibus que eu. 

Criado em: 15/10/1991 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MUNDO SENSÍVEL

  E toda vez que eu via, ouvia, sorria, sorvia, sentia que vivia. Então, veio um sopro e a chama apagou.   Criado em : 17/01/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...