A política de um país não se constrói
apenas nas instâncias de poder, mas também na forma como a população reage e se
posiciona diante dela. Em sociedades marcadas pelo clientelismo, cria-se uma
engrenagem perversa em que governantes e governados se retroalimentam: de um
lado, os políticos oferecem favores, cargos e benefícios particulares; de
outro, a população, por conveniência, comodidade ou sobrevivência, aceita e
perpetua esse sistema, ainda que critique em público seus desmandos.
Esse paradoxo revela-se na figura do
"político de estimação", já que muitos cidadãos, mesmo conscientes da
corrupção ou do abuso de poder, optam por relativizar os erros de quem os
representa, defendendo-o como se fosse um parente ou amigo íntimo. Tal postura
enfraquece o debate público, reduz a política a rivalidades passionais e mina a
construção de um Estado verdadeiramente republicano, no qual o interesse
coletivo prevalece sobre os vínculos pessoais.
Assim, não basta denunciar o corporativismo
da classe política, se a própria sociedade mantém um pacto silencioso de
cumplicidade. A corrupção não é apenas um desvio individual de governantes, mas
um fenômeno socialmente tolerado, sustentado por práticas enraizadas e pela
falta de responsabilização efetiva. Enquanto a população continuar a enxergar a
política como espaço de favores e privilégios, e não como exercício de
cidadania, os ciclos de autoritarismo, conchavos e corrupção permanecerão
intocados.
O desafio, portanto, não é apenas reformar as instituições, mas, sobretudo, romper com a mentalidade que naturaliza a conveniência em detrimento do bem comum. Uma democracia só amadurece, quando seus cidadãos abandonam a passividade e assumem a responsabilidade de fiscalizar, cobrar e, sobretudo, não idolatrar seus representantes, tornando-se parte de “bases eleitorais” alienadas.
Criado
em:
29/8/2025 Autor: Flavyann Di Flaff
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