Carregamos, dentro de nós, corredores
escuros, cheios de portas trancadas. Cada porta guarda um segredo, uma
fraqueza, uma sombra que não ousamos mostrar. Passamos a vida fabricando chaves
falsas, máscaras bem polidas, discursos de virtude para que ninguém perceba o
que escondemos.
E quando o outro tropeça, justamente, no
abismo que tememos em nós, não suportamos. O erro dele é o reflexo que tentamos
apagar do espelho. Sua queda denuncia a nossa fragilidade. Então, erguemos a
voz, apontamos o dedo, transformamos o outro em réu. Condenamos, não porque ele
é pior, mas porque ousou expor aquilo que enterramos dentro de nós. Assim, a
condenação vira cortina. Gritamos contra a falha alheia para silenciar a nossa
própria. Ridicularizamos para distrair os olhares. Quanto mais severos somos
com o outro, mais confessamos — sem perceber — a luta surda que travamos contra
nós mesmos.
No fundo, tudo isso ocorre, porque sabemos que cada pedra lançada é também um pedido de socorro. Cada acusação, uma confissão disfarçada. O outro não é apenas culpado. É o espelho que nos assusta.
Criado
em:
23/8/2025 Autor: Flavyann Di Flaff
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