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MOMENTO NOSTÁLGICO

Houve um lugar mais que chamado de Lar doce Lar, chamava-se a Casa de Mainha e Painho. Nele, habitavam o afeto e o respeito em perfeito equilíbrio, sem espaços vazios para o excesso que só causa extremismos que adoecem as relações.

Lugar simples de permanente e impecável arrumação. De mesa farta e dedicação exclusiva às coisas do lar. A qualquer hora que chegasse, tinha sempre uma sobremesa para degustar e um bom papo para pôr em dia.

Todo fim de semana era certo: tinha uma deliciosa torta de chocolate à nossa espera. Mãos de fada que, além dessa delícia, fazia inúmeras outras, tudo fruto do vasto aprendizado nas mais variadas artes manuais, o que proporcionava confeccionar verdadeiras joias para a decoração dos ambientes. Neste ser, que em silêncio tudo fazia, habitava tudo o que necessitávamos, e a quem chamávamos ternamente de Mainha.

Aquele lugar também tinha muito da presença dele, pessoa de poucos sorrisos, sinal de que os que distribuía eram sinceros, sem a falsidade do agrado. Igualmente, tudo fazia no silêncio, não fazia estardalhaço, porque, mais importante do que falar é fazer, assim era Painho. Depois dela, era o último guardião da ordem familiar – o STF das causas quase perdidas por Mainha. Por algumas vezes, desta forma, assim atuou, intervindo severamente quando necessário; se cometeu excessos, hoje sabemos que no calor da emoção pode-se perder a mão, não mais nos convêm comentar. No mais, o respeito dele era a forma de nos amar e hoje assim entendemos.

Ah, como era bom dizer “lá na casa de Mainha e Painho”! Tinha um sabor de porto seguro, de cantinho de aconchego. Era como aquela casa de doces no meio da assustadora floresta, só que em vez de uma bruxa a habitá-la, existiam duas figuras simbólicas da mais pura humanidade. Infelizmente, este lugar não mais existe, foi-se com eles. O último que teve o privilégio de ser nomeado daquele jeitinho, hoje não passa de um mausoléu que guarda os despojos de mágoas mal resolvidas, não servindo mais para a moradia dos vivos e bons de coração.

Hoje, ouvindo “Mais perto quero estar”, lembrei-me das vezes em que esse hino ecoava pela Casa de Mainha e Painho, este cuja voz emprestava para louvar a Deus. A partir dessa lembrança, revi o já escrito e, então, agora convicto, posso afirmar que aquele lugar ainda existe e nele ambos estão a nos esperar. Portanto, muito em breve, estaremos reunidos como nos velhos tempos das mais tenras fases de nossas vidas.

Criado em: 09/05/2021 Autor: Flavyann Di Flaff

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