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UM QUARTO DO FIM

Quando do findar do dia,
ele se recolhe ao quartinho de despejo.
A luta diária não é só pela sobrevivência do corpo,
mas também e, principalmente,
pela manutenção de uma mínima saúde mental.
O ambiente, bem familiar, não ajuda, pelo contrário,
colabora com a deterioração dela.
São sons, juntos e misturados, de máquinas,
gritos e palavras proferidas por gente distinta
e algumas alheias, a auxiliar o desmantelamento mental
daquele que só quer paz e tranquilidade.
O dia mal amanhece e nem dá bom dia
ao insone companheiro de rotina.
O corre acelerado da vida, 
que semelhante a um capitão-do-mato,
exerce uma pressão descomunal
no seu jeito de se comportar,
força-o a viver como um atormentado
espírito existência afora.
Ao findar de mais um dia,
retorna e retoma o seu quarto de chão,
onde tentará, angustiado, descansar
a sua sofrida carcaça desumanizada.
 
Criado em: 06/11/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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