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TRAGO-TE

Nos dias de solidão,
trago-te pacientemente no pensamento,
como quem sorve o que acalma
a prevista e costumeira tormenta
de nefastos sentimentos,
proporcionando a sensação,
imediata e vã,
de segurança diante
do perigo iminente.
Depois, como fumaça,
a tua lembrança
vaga, alva, no ambiente e,
aos poucos, vai esmaecendo
até sumir diante
dos meus olhos dispersos.
Ao te consumir por entre
os dedos da memória,
a sensação que permanece
é a de te perder outra vez,
intermitentemente, vida afora.
 
Criado em: 13/11/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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