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O DESPERTAR DE ANTIGOS SENTIMENTOS

                    

A Nostalgia, como visita inesperada, veio bater à porta. Abri e ela adentrou no recinto. O Pensamento, governante do local, recebeu-a com afeição. Cativado que foi por tão inspiradora criatura, convidou-a para um passeio aos recantos do lugar, o que me pareceu óbvio fazer, já que o olhar e os gestos dela pareciam um convite para o além do agora, seja para antes ou seja para o depois. Pareciam levitar, quando da sala saíram. De certa forma, acabei indo junto, meio que narrador onisciente.

Dirigiram-se rumo a um lindo e pequeno bosque, onde, em uma amurada coberta por heras e ladeada por ciprestes, um emplumado casal de rolinhas chamou a atenção. A Nostalgia e o Pensamento, com olhares cúmplices, decidiram apreciar aquela metáfora de relacionamento livre das amarras sociomoralizantes. As aves se acariciavam mutuamente, arrulhando como eternos namorados, atos que se intercalavam por olhares cúmplices. A cada gesto, os dois atentos observadores suspiravam, encantados que estavam pela cena, como a reviverem algo que já foi e não volta mais. Não por ter acabado, mas por ter mudado, não só a forma como também a própria essência, tornando-se em um objeto de escusos interesses. Ambos, exauridos pela emoção causada por antigas sensações, retornaram à sala. Onde permaneceram numa troca de olhares silenciosa, até se despedirem sofregamente, como se algo tivesse sido despertado e insinuado, continuando nas entrelinhas dos sorrisos e acenos da partida, enquanto eu, onisciente, a tudo percebia e sentia.

Criado em: 12/11/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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