Pular para o conteúdo principal

O DESPERTAR DE ANTIGOS SENTIMENTOS

                    

A Nostalgia, como visita inesperada, veio bater à porta. Abri e ela adentrou no recinto. O Pensamento, governante do local, recebeu-a com afeição. Cativado que foi por tão inspiradora criatura, convidou-a para um passeio aos recantos do lugar, o que me pareceu óbvio fazer, já que o olhar e os gestos dela pareciam um convite para o além do agora, seja para antes ou seja para o depois. Pareciam levitar, quando da sala saíram. De certa forma, acabei indo junto, meio que narrador onisciente.

Dirigiram-se rumo a um lindo e pequeno bosque, onde, em uma amurada coberta por heras e ladeada por ciprestes, um emplumado casal de rolinhas chamou a atenção. A Nostalgia e o Pensamento, com olhares cúmplices, decidiram apreciar aquela metáfora de relacionamento livre das amarras sociomoralizantes. As aves se acariciavam mutuamente, arrulhando como eternos namorados, atos que se intercalavam por olhares cúmplices. A cada gesto, os dois atentos observadores suspiravam, encantados que estavam pela cena, como a reviverem algo que já foi e não volta mais. Não por ter acabado, mas por ter mudado, não só a forma como também a própria essência, tornando-se em um objeto de escusos interesses. Ambos, exauridos pela emoção causada por antigas sensações, retornaram à sala. Onde permaneceram numa troca de olhares silenciosa, até se despedirem sofregamente, como se algo tivesse sido despertado e insinuado, continuando nas entrelinhas dos sorrisos e acenos da partida, enquanto eu, onisciente, a tudo percebia e sentia.

Criado em: 12/11/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff