Pular para o conteúdo principal

METÁFORAS DA VIDA

                            

Quando criança tinha a curiosidade inerente a essa fase, por isso, ao não entender o porquê dos bois e vacas, durante grande parte do ano, ficarem soltos no pasto e, depois, em um curto espaço de tempo, ficarem confinados, foi perguntar ao avô, velho fazendeiro da região, porque acontecia aquilo. No que, prontamente, o avô respondeu:

− Agimos assim para lucrarmos mais com o gado. Quando eles estão soltos no pasto, é porque o período não contribui para o nosso crescimento econômico, já no período em que estão confinados, significa que farão o que desejamos, engordarão e, consequentemente, pesarão umas arroubas a mais, dando retorno ao nosso investimento. Apesar da explicação, ainda ficou com uma pulga atrás da orelha, mas isso a vida cuidaria de desconstruir.

Já adulto, vivendo em um país politizado, no melhor sentido da palavra, foi levado a participar da vida cívica de seu país, com o entusiasmo de um novato em um evento caduco. De tudo viu e ouviu, sem nada guardar, diferentemente do apaixonado que de tudo de sua paixão guarda, quando ofendido fica, se caso falam dela. Cansado de tudo, percebendo que criticavam apenas a quem ocupava o poder, já que não eram os deles, mas opositores, percebeu que nada mudou. Em seu pensar, as pessoas deveriam criticar e lutar para mudar o modelo secular vigente de poder, em vez de só criticar, por conveniência, aqueles que por ele passam e tiram absurdo proveito para si.

Indignado estava, uma vez que, no próximo fim de semana, teria de cumprir com o cívico dever de votar. Diziam ser este o exercício pleno da democracia, hipocrisia pós-moderna convertida em discurso politicamente correto. Nesse momento, lembrou-se de que, durante as semanas anteriores, os candidatos derrotados no primeiro turno divulgaram as suas posições acerca de seus pares que seguiram para o segundo turno. Uns escolheram o candidato A, alguns o B e outros preferiram declarar neutralidade, porém, não sem antes deliberarem aos seus correligionários, com a face mais significativa da dita democracia, que os liberava para votar em quem quisessem. Fato que trouxe à memória afetiva do serviçal estrutural do poder aquele episódio do gado na fazenda de seu já falecido avô. Foi, então, que entendeu o que a vida estava a lhe mostrar, naquela ocasião, em forma de metáfora. Depois desse entendimento, seguiu rumo à zona com a convicção de não mais servir de lubrificante para as engrenagens da máquina do sistema.

Criado em: 22/11/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff