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VIAGEM À PROVÍNCIA

Fiz uma viagem ao interior, seguro de que encontraria intactas paisagens pueris. Isso fez-me dar autonomia a emoções pujantes, consequentemente, de difícil controle. Mas bastou-me vislumbrar os primeiros traços do panorama interiorano, que elas se refrearam, quase ao mesmo tempo que a ação ocular. Pelos indícios, aquelas paisagens primevas não mais existiam, e se existiram, foram apenas na oratória de algum saudosista com síndrome de Peter Pan.

Aquele interior parecia não mais nos pertencer! Tantas coisas modificadas, reversões de valores que foram prescritos amorosamente ao longo de gerações, tudo consequência das inúmeras e distintas influências sofridas no decurso do tempo compartilhado alhures. Estranhamento estranho! Indignação artificial forjada sob o manto do não-querer-aceitar, fatalidade anunciada.

Ah! Quanto colaborei para tão drástica mudança? De quem tanto me acerquei para dar tão obtuso traço? Estava eu cônscio ou alienado das vindouras consequências? Como me eximir do cunho existencialista de tantas questões?! Ah! minha pobre alma retorna e se farta na esbórnia temporã da realidade transformada que lhe cerca.

Criado em: 25/08/2019 Autor: Flavyann Di Flaff


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