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Mostrando postagens de julho, 2025

TURMALINA PARAÍBA

  Ela chegou como quem rasga o tempo — turquesa viva no meio da multidão opaca. Não cabia no espelho dos olhos alheios — Janelas d’alma, nem nos moldes preestabelecidos, nem nos rótulos costumeiros.   Brilhava nas entranhas da terra, rara como o verde que escapa das marés, como o azul que remete ao céu. Feita de cobre, de ouro e de manganês, ela reluzia, fulgurava.   Turmalina de alma líquida, impossível de forjar ou domar. Não era ornamento — era revolução lapidada de um progresso ulterior.   Como planta que desafia o chão nordestino, ela também brotou onde não se esperava: no interior, no silêncio, com a força de ser e não se dobrar.   Não se vendia. Era descoberta. Era garimpo de si.   Seu brilho não vinha da luz — mas do que nela resistia, profundo, visceral, feminino ancestral.   É joia-mulher e é paraibana: gema que não aceita cópia, nem descaso, nem submissão.   Criado em : 29/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff ...

PIETRO

  Mal soou o gallicinium e já negou a força criadora por consecutivas três vezes. E por seis vezes, o mundo julgou até condenar aquele que o quis desafiar. A negação fadada foi uma carga pesada, difícil demais de carregar. Passada a terceira vigília, a consciência retornou. A vida parecia não ter mais sentido, mas o cotidiano insinuava o contrário, bastava apenas acreditar, torná-lo verdadeiro e reacender a força dentro de si para cumprir a missão predestinada.   Criado em : 29/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ENTRE O SIGNIFICADO E O ENTENDIMENTO

  A palavra é ponte invisível, líquida e viva, que escorre entre a alma que sente e o ouvido que escuta. Ela nasce silêncio e se faz rio — desliza pelas margens do não dito, buscando abrigo no outro. É água que molda, que limpa, que inunda — e, às vezes, afoga. Preenche o vão entre o que se quer dizer e o que se pode compreender, dançando entre sentidos, escavando cavernas no coração de quem a recebe. Há palavras que curam, outras que cortam — mas todas carregam em si o dom de alcançar. E nesse espaço entre o que se pensa e o que se entende, a palavra é gota, é mar, é espelho — reflexo do que somos quando ousamos dizer. Criado em : 27/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

RESISTIR

  Quando as chamas da ancestralidade findaram, afundou na mais completa escuridão, pois não criara a sua própria luz. Assim, tempos sombrios se instalaram em sua existência, gerando uma premente impotência. Não se sabe o quanto suportará, mas há de ser forte, enquanto a luminosidade da esperança não brotar por entre as frestas de seu melancólico ser, fazendo-o renascer para além das aparentes dificuldades externas.   Criado em : 26/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ALICIADORES DA REBELDIA

         Nasce no asfalto quente, entre gritos roucos e cartazes mal impressos, o suspiro inaugural de um movimento popular. É frágil, mas feroz feito chama acesa em palha seca. Ninguém lhe dá ouvidos; zombam de sua urgência, ignoram sua fome de justiça. É criança rebelde pulando cercas, derrubando muros com palavras – ferramentas de resistência.           Mas o tempo, esse velho sedutor, vai dando-lhe forma. E o que era sopro, vira vendaval. Ganha corpo, gente, força, rumo. A praça se enche. Os gritos, antes dispersos, agora têm coro, bandeira, ritmo, batida. E aí, justo aí, quando a verdade começa a doer nas vitrines do poder, surgem os abutres engravatados — partidos, siglas, aliados, palanques — com seus sorrisos de vitrine e suas promessas de espelho, instrumentalizam o movimento para capitalizar recursos e influência política, fazendo-o perder a essência.           Chegam mansos, como quem só...

AMOR CURIOSO

  E o amor chegou com pressa! Impulsivo, não esperou. O respeito, o cuidado, a tudo atropelou. Polido, o amante ficou travado. Sem querer queimar etapas, cedeu em doses homeopáticas. Porém, o amor juvenil, curioso e inconsequente, à espera, não resistiu. Então, ensandecido, o amante desprezou. Este, apaixonado, rosas lhe enviou, mas o coração do amor, agora frio, pelo ato, não foi tocado. Assim, desconheceu o amante e, rapidamente, o descartou. Descobrindo o que é amar, perdendo-se em outros braços.   Criado em : 3/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

LUCIDEZ TARDIA

E ali estava ele, velho e gasto, com os olhos já mais opacos que o céu nublado das manhãs esquecidas. Sentado na soleira do barraco torto, construído com o suor dos dias que nunca lhe renderam glória, lembrava-se de tudo o que entregara em troca de nada. Era um homem simples, eleitor fervoroso — desses que apertam a mão do político na feira, que sorriem com esperança mesmo quando a barriga ronca e o esgoto corre solto no pé do barraco. Durante décadas, votou com fé. Elegeu, defendeu, aplaudiu. Pintou muros, carregou bandeiras, distribuiu santinhos como quem distribui a própria dignidade em migalhas. Toda eleição era um recomeço, uma nova chance de se iludir com as promessas polidas, embaladas em discursos que cheiravam à mentira bem-feita. E ele acreditava. Porque é isso que fazem os que têm pouco: acreditam. Agarram-se às palavras como quem se agarra a tábuas flutuantes em mar aberto – à salvação. "Vai melhorar", diziam. "Agora vai", prometiam. E ele dizia am...

BALA COM BACO

  No meio da noite, na rua sem calma, uma bala voou, perdeu-se na palma. Não era de chumbo, nem feita pra guerra, era doce, era festa, era paz sobre a seca terra.   Baco brindava, taça erguida no ar, vinho escorria, pronto a celebrar. Entre goles e risos, sibilou num estalo, o som do balacobaco — um festivo abalo!   Gente girando, forrozando no batido chão, entre pés descalços, poeira e o som do baião. O prazer era rei, reinava pleno e sem dor, no império do milho, do riso e do amor.   E, ali, nessa dança de gosto e desejo, a euforia beijava a vida em lampejo. Com Baco no brinde e o caos no compasso, a noite se fez em prazer sem embaraço.   Criado em : 2/7/2025 Autor : Flavyann Di Flaff