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WI-FI

Depois de saírem de um emaranhado de relacionamentos, ansiosos e inseguros, conectaram-se. Em vídeos promocionais virais, viram-se. Convencidos pela primeira impressão, encontraram-se. Dali em diante, absorvidos pelo imediatismo das obrigações cotidianas, encontravam-se para cumprir a formalidade relacional recente.

As vozes transcritas soavam como letras frias de uma lei determinada monocraticamente. Quem as lia, não percebia nenhum sinal da mais frágil emoção nelas, por isso sentia a necessidade de colocar, de acordo com seu estado emocional, a impressão que bem lhe calhava no momento. As conversas frugais transformaram-se em textões impossíveis de serem lidos; os pedidos carinhosos, em cobranças constantes por respostas imediatas.

Uma polifonia destoante da realidade vivenciada instalou-se. O que era uma explicação plausível transformou-se em arrogância; o que era sensatez, flecha mortal no corpo automutilado por impertinentes contingências. Rompendo, de vez, com a invisível conexão entre eles. O que produziu um virtual desconforto, induzindo a um compartilhamento que foi curtido e comentado por geral, gerando o engajamento almejado. Na verdade, a conexão que existia era individualizada, uma vez que cada um possuía a sua, baseada em dados móveis, que em nada foram alterados. Afinal, pagando a fatura, serão renovados automaticamente.

Assim, findou um relacionamento moderno. Sem olho no olho, sem argumentos consistentes, sem réplica ou tréplica, simplesmente, em dois cliques: um para bloquear e outro para excluir.

Criado em: 16/04/2022 Autor: Flavyann Di Flaff

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