Pular para o conteúdo principal

A ESPECIFICIDADE DO AMOR

No decorrer da vida, já transei muitas pessoas. Com algumas, foi erotismo puro; com outras, pornografia abjeta. Apelidava essas relações de amor, para que não chocasse e fosse aceita pela sociedade na qual me insiro. Assim, desvirtuou-se o amor, que tantos vultos e gerações lutaram para torná-lo excepcional.

Transando, satisfiz o desejo que, naquelas ocasiões, consumia-me e me impelia para a satisfação irremediável. Depois de satisfeito, o descarte era feito. Com alguns, era de forma definitiva; com outros, intermitente. Depois de apagado, para acender o fogo, tinha-se que refazer todo o ritual. Gozando, fui gozado geral.

Passados alguns anos, revi alguns conceitos. Quando pensei ludibriar a outros, enganava a mim mesmo. Então, descobrir que nunca amei, pelo menos, como sempre preguei.

O Amor, por ser universal, não é satisfação instantânea, intermitência de empatia. Amor é regularidade, mesmo na ausência, na distância imprevista, na contemplação rara, nos silêncios do encontro, na doação desmedida.

No Amor, não há fogo apagado, não é preciso refazer o ritual, basta um sopro de vida no braseiro para reascender o fogo ancestral. Portanto, não devemos confundir Amor com desejo, pois este se renova ao passar, enquanto aquele se fortalece ao se doar. O primeiro é construído e cheio de nuances; o segundo é consumo, é descarte, é o fazer uso da carne.

Criado em: 21/01/2022 Autor: Flavyann Di Flaff

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff