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ABUSO IMPROVISADO

Cansado das lutas diárias, não consegui dormir, então fui deambular para desacelerar o pensamento. Já andava por um bom tempo, quando, ao passar por uma rua, ouvi um débil ruído. O que me fez cessar o passo e olhar ao redor na intenção de identificar a fonte daquele, mas nada visualizei. Retomei os passos e o olhar para frente e prossegui, porém, não fui tão longe. De repente, abordou-me com a brutalidade típica de quem quer impor a sua vontade! Já me pegou e puxou pelo braço até me levar a um veículo, propositadamente esquecido em um quarteirão mais adiante. O cenário mostrava sinais de que fora cooptado para o evento, que já estava a acontecer, pois a noite se encontrava muda e em luto fechado, a artificialidade brilhante se ausentou dali, totalmente cúmplice, e a presença de vida parecia uma pálida lembrança àquela hora naquele local. Com um leve sorriso nos olhos, a pessoa que me conduzia coercitivamente, parecia antecipar em sua mente, o sórdido prazer que sentiria, enquanto o interminável momento daquela ingrata surpresa ainda me consumia. Entorpecido, fui, como um bêbado no fim de uma festa, guiado por uma figura oportruísta, que, parecendo ajudar, na verdade, estava interessada somente no desfrute desumano do meu corpo inocente.

Chegamos ao seu auto que, parado ali, tornou-se o abatedouro provisório para matar o seu desejo carnal. Enquadrou-me, assediando-me de forma voraz ali dentro do sinistro automóvel, e sacando de minha genitália, como uma criança diante do seu doce preferido, caiu de boca nela em um prolongado frenesi, o que provocou um efeito corporal paralisante em mim. Molhadas, fundiram-se em um ato há muito naturalizado pela sociedade. Empoderada, com gestos firmes, impôs, mais uma vez, o controle, sempre ordenando estocadas mais sonoras e vigorosas para fazer vibrar, dolorosamente, as suas carnes. Enquanto eu, com as suas rédeas capilares à mão, dava vazão aos seus galopes alucinantes. Depois de consumada a sua festinha, no ritmo do martelo agalopado, largou-me, catártico e sozinho, no meio do mundo.

Criado em: 30/09/2020 Autor: Flavyann Di Flaff

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