Hoje, passados anos do nosso encontro,
vejo mais claramente o que ocasionou o fim da relação. Até então, culpava-me
por isso, sem que tivesse a lucidez necessária para rever essa autocondenação –
algo que só veio com o tempo. Tempo que, inicialmente, fora de longos momentos
de uma sensação de impotência, depois, de autoflagelação, até chegar à
superação do ocorrido e seguir adiante, afinal, a vida segue.
Você desabrochou, virou mulher, amante,
esposa, mãe. Segui rumo distinto, porém, também fui amante, todavia, sem criar
laços, sem fundar porto nem cais.
Passado o tempo, refletindo na época de
hoje, longe e livre dos fatos passados, vejo que o que nos tornou incompatíveis,
não foi o meu hesitante sentimento, mas a diferença entre ele e o que havia em
você. Porque enquanto em mim era sentimento, em você só havia desejo – vontade louca
da iniciação. Sentimento é zeloso e paciente, já o desejo, esse é impulsivo –
quer logo ser saciado. Então, ao menor sinal de hesitação minha, o desejo
esfriou e a fez me desprezar, abandonar-me. Mesmo tentando, com o meu florido e
amoroso gesto de conciliação, você seguiu como uma noite de São João sem
fogueira – sem graça e fria comigo.
Pelo já descrito, concluo que o tempo foi
o supremo construtor, no mal e no bem, da minha redenção. Destruindo as
impressões que me faziam assumir tal culpa. Portanto, o tempo, acima do bem e
do mal, foi a força criadora e soberana da consciência libertadora, quando assim
desejei e permiti.
Criado em:
11/06/2019 Autor: Flavyann Di Flaff
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