Só podia fazer parte do séquito de Lúcifer
– o mestre da dissimulação! Dessa forma, o Cavaleiro tentava entender os
últimos acontecimentos. Queria imaginar outras coisas que justificassem tamanha
urdidura em que foi envolvido, mas tudo caminhava somente àquela justificativa.
Como pôde? Por que dissimular? Por que não
usar de honestidade? O Cavaleiro se questionava, pressionado pela dor que agora
sentia. Era duro crer que tudo fora tramado pelo seu fiel escudeiro, uma pessoa
acima de qualquer suspeita. Agora, a máscara caiu e não dá mais para remediar o
estrago deixado em seu ser, resta-lhe suportar e superar a perfídia sofrida.
Superação lenta e dolorosa, pois, em seu peito, agora arde o fogo da vingança,
e se o destino – sempre senhor das coisas – o tivesse aludido pelo menos uma
vez, teria enfiado a lâmina de sua espada até sentir bater o cabo na carne do
infiel. Assim, por toda a confiança que depositara naquele e que fora relegada
a nada, lavaria a sua honra para todo o sempre.
Depois do grande flagelo, o Cavaleiro
adentra numa escuridão quase sem fim. Em vão, tenta controlar o ímpeto de
vingança que o consome. Anseia por não pensar nisso, porém é só no que anda
envolto o seu pensamento. Inconformado, as lembranças chegam numa sequência
lógica dos fatos ocorridos até ali. A cada flash, vislumbra o quanto
dividiu e expôs as horas sagradas de sua vida com quem julgava confiar, entretanto
este acabou revelando a verdadeira intenção por trás de suas palavras e ações.
Lembra-se de que, para chegar até essa convivência, muitos acordos foram
selados e, por isso, uma confiança fora estabelecida. Tudo isso, devido a
ofertas mais tentadoras, sendo desprezado em seguida, e o que antes se erguera
sob o respeito, a lealdade e a confiança, converteu-se numa covardia sem
precedentes. O escudeiro só pensava na sua própria satisfação e por puro
egoísmo quebrou o acordo selado, abandonando o seu senhor. Este sem nada
pressentir, permaneceu leal ao que fora acordado, até que, por acaso, descobriu
o ardil impetrado pelo seu servo.
Que esta tenebrosa noite passe rapidamente,
e enquanto ela durar, não induza o Cavaleiro a tomar uma medida drástica, como
antes anunciada. Que a luz volte a brilhar, trazendo a serenidade e a paz
necessárias para reequilibrar o corpo e o espírito do guerreiro ferido.
Criado
em:
22/09/2013 Autor: Flavyann Di Flaff
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