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A COBRANÇA CERTA E JUSTA DO TEMPO

Como outros na sagrada e hipócrita Inquisição, também fui condenado à fogueira! Não por merecimento, mas por pecados a mim atribuídos. Culpas e traumas guardados no coração daquela sacerdotisa, que em suas pregações dominicais cobrava coisas dos outros que ela mesma não seguia.
A orgia, a falta de companheirismo, a ironia e a traição, coisas que ela tanto condenava, cometeu-as para comigo! Nunca a provoquei, mas a sua ansiedade por ver saciados todos os seus desejos, transformou-me em seu desafeto. Então sobrou para mim, apenas arder no fogo do desencanto.
Até à condenação de fato, os dias se passaram lentos. A cada encontro com meu algoz, via o quanto era dissimulado o seu afeto. Deixava, muitas vezes, propositadamente, em suas palavras, transparecer o seu asco pelo meu sentimento, esse, constantemente, testado e desaprovado, pois era visível que me transformara em um fardo para a sua vida.
A comunicação da pena não veio em forma de palavras, mas em forma da ação mais cruel contra um ser humano: a traição! Logo dela, que tanto confiei e dei-me desde o início. Custou-me digerir aquela mensagem, mas já estava consumada, e teria que pagar pelo que não fiz! Assim foi feito, e fui levado à fogueira da Inquisição. Até então, calado fiquei, e já sendo devorado pelas chamas do desencanto, vi a ironia estampada naquela face que um dia acariciei e beijei.
A sacerdotisa, ansiosa como era, não aguentando mais esperar, deu como certa a minha morte, e partiu. Mal sabe ela, que assim como a Fênix, que ao virar cinzas revive, eu, no fogo do desencanto, fiz-me mais forte e voltei a viver!
O tempo passará, e a pena imputada ao inocente será revertida àquela que, verdadeiramente, transgrediu as regras da boa e honrada convivência a dois. Pois para aquele, quem tem como pagar, não lhe deve nada.

Criado em: 09/01/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

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