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Mostrando postagens de 2025

ESTADO PARCIAL

  O Estado promete, o povo espera de forma passiva. A Constituição determina, mas, dúbia, é parcialmente cumprida.   Educação, Saúde, Segurança: Palavras grandes entregues em doses homeopáticas.   O salário é mínimo, a escola é mínima, a fé no sistema — mínima.   E nós, meros cidadãos, esperamos o máximo de quem já nasceu para nos dar o básico.   Criado em : 13/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

PROVÉRBIO DESCONSTRUÍDO

  O pai é um ser vazio de terno, a mãe é um eco num aplicativo. E a casa? Em vez de lar, é um mundo silencioso com Wi-Fi onde a liberdade perniciosa se sobressai.   A escola — oh a escola — Cumpriu datas, vomitou conteúdos, e não ensinou a enfrentar a selva de pedra onde os leões usam máscaras.   Mas a Aldeia... Onde está a aldeia? A aldeia virou uma ilusão na tela de um smartphone , é a buzina dos desesperados na rua, o like de um “amigo” nas redes, o muro pichado com bravatas.   A criança-espelho procura um rosto para refletir, e só encontra o abandono afetivo (um buraco negro no peito) e a escola descompromissada (um diploma de nada).   E o provérbio africano? É um suspiro, um fóssil, um verso solto num mundo de prédios, estáticos e frios, que não se tocam jamais.   É preciso uma aldeia inteira, porém, a aldeia foi desconstruída, e a criança — Projeto de vida de um ser cidadão — é só um rascunho na gaveta do esquecimento, inviabilizado por muitos nãos....

REINO CUSTOMIZADO

Dai a César, dai a Deus. E dai um pouco de lucidez a quem mistura o altar com o palanque.   Entre a cruz e a coroa, alguém sempre calcula o lucro da fé. Jesus fala de espírito, mas o homem traduz em materialismo.   Erguem-se templos — não de pedra, mas de poder. A palavra vira senha; o sagrado, propaganda.   O Cristo que perdoa vira slogan de campanha. O amor, que era verbo, vira fronteira moral, carimbo de pureza na testa dos “eleitos”.   O Reino... não cabe em palácio, nem em parlamento. Mora quieto, no espaço miúdo onde a consciência respira.   Mas o homem quer tocar o divino com as mãos sujas de poder, quer santificar a própria ambição, quer fundir fé e força, trono e tabernáculo.   E o resultado? Um Deus customizado, feito à imagem e à semelhança dos interesses de sempre.   Se o mundo soubesse — fé é para o íntimo, política é para a rua — talvez cessasse o ruído de quem fala em nome do céu, mas mira o reino da terra.   O Reino de Cristo conti...

DISTOPIA

  O movimento surge de uma utopia, Depois, firma bandeira de alguma ideologia São muitos quereres pra quem nada tinha. Assim, toma corpo, adquire força. Desfila em carro aberto, Canta frases de efeito, Vandaliza o status quo , Comercializa participações, Gera capital simbólico e material. Transforma-se em outdoor , vende o orgulho estilizado − Commodity cobiçada, ambição desmensurada. Já não há marcas da utopia, prevaleceu a distopia − Opressão hegemônica do capital, retrato da instrumentalização habitual.   Criado em : 8/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

SER PERCEPTIVO

  Não insista em contextualizar Teorizar minúcias cotidianas Criança disso nada entende Ela só percebe a presença Dos pais Dos afetos Da segurança A ausência não é despercebida De forma desmedida Gera distância Gera desafetos Gera inseguranças Assim, a infância É autoconstrução na observação Do diferente Dos outros Afinal a vida é prática Não é feita de conceitos abstratos Descartáveis no simples contato Com as coisas reais do mundo   Criado em : 7/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ASCENSÃO ENLATADA

  Para toda jovem revolta periférica, um mimo de grife hypada − Entrada para o higt society da espetacularização. A vida em sua plenitude instrumentalizada, baseada no “quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza!” Se nada tive quando na pobreza estive, agora enquanto celebridade, liberto-me, realizando todos desejos, conquistando as coisas que não possuía. Crescimento vertiginoso, travestido de status e ostentação, sempre à margem da real ascensão. Cresci no vaso da ignorância, ferramenta eficaz do sistema − Cresço como mercadoria, e não morro como periferia. Viva la vida loka! − Instintos abundantes, consciência pouca. Existência supérflua e breve − Carpe Diem pervertido.   Criado em : 7/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ÓCIO REFLEXIVO

  E, na luta contra os moinhos de vento, ocorre uma pausa. Nesse breve ócio, um momento de reflexão: Como são enormes esses monstros indomáveis! Como vencê-los, se não tenho controle sobre eles? Nessa luta insólita, quanto ainda resistirei? A Existência não me é amiga, avisou-me do tempo breve. Assim, ou sucumbo na luta, ou me arrasto ao longo da vida que me resta.   Criado em : 6/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ECO DOMESTICADO

  Toda revolta nasce pura, feito um grito que desconhece o eco. Mas o eco vem — e o sistema o grava, o edita, o vende.   O punho cerrado vira logotipo; a bandeira, estampa. A raiva é playlist; a utopia, anúncio.   E o homem, cansado de lutar, compra sua própria esperança em módicas prestações.   Ainda assim, há quem sonhe. Há quem insista em gritar, mesmo sabendo que o eco virará mercadoria. Porque, talvez — só talvez — no intervalo entre o grito e o lucro, a verdade ainda respire, negando o espetáculo de seu próprio luto.   Criado em : 6/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

METÁFORA DE UMA VIDA ALIENADA

  Um jovem cidadão, trabalhador informal, tem, como instrumento de labor, uma motocicleta . Ciente de que precisa renovar o emplacamento todo ano, prefere correr o risco cotidiano de ter o seu instrumento apreendido. Como se isso não lhe bastasse, em serviço, executa, de forma recorrente, outra infração de trânsito , “ empina ” a sua motocicleta irresponsavelmente, podendo, além de danificar e/ou perder o seu único instrumento de trabalho, causar um acidente grave a outros e a si mesmo. E, assim, segue a sua alienada vida, enquanto as consequências, por esta, não lhe baterem à porta. Criado em : 4/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

EDUCAÇÃO SUSPENSA

  Direito eterno ecoando nas paredes da Constituição mas o professor… temporário, passageiro, como folha ao vento, como salário que se dissolve ante às necessidades do mês.   A política diz: corte, ajuste, contenha e o investimento torna-se conta a pagar, custo indevido, em vez de semente a germinar.   O giz risca o quadro mas a precariedade arrisca o futuro e a sala de aula se encolhe sob o peso de contratos frágeis e sonhos adiados, invalidados.   E, ainda assim, o professor resiste, voz que insiste num país que esquece que ensinar é eternizar a potencialidade que existe.   Criado em : 3/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

RESPONSABILIZAÇÃO

Hoje os dias andam nublados Tempestades eclodem Raios iluminam a escuridão Trovões esbravejam sermões apocalípticos   Figura nesse turbilhão do caos Um ser frágil e impotente Diante do inexorável O inevitável é desesperar-se   Erínias das consequências Têm como funções primordiais Perseguir e punir atos desordenados   Reconhecendo-se culpado O frágil e impotente ser Como o vento na tempestade Começa a cantar Cantigas de ninar Acalmando a sua essência Confortando a sua madura aparência   A vingança de Alecto, Tisífone e Megera, Enfim, fora cumprida.   Criado em : 1/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff  

MERCANTILIZAÇÃO

  Nas esquinas, o microfone era punho cerrado, voz rouca contra o Estado, palavra que queimava como fogo e para os oprimidos era o desafogo.   Hoje, há joias que cintilam mais que denúncias, há carros que roncam mais alto que a fome, há rimas embriagadas só de prazer. É o adeus à marginalização!?   O sistema sorri: Fez da revolta um espetáculo, da dor um refrão vendável, da crítica um eco distante. Um salve para a massificação, a indústria cultural venceu!   Mas ainda há becos onde o rap não se vende, onde a batida insiste em lembrar que a ascensão materialista é efêmera, o luxo é passageiro, e a luta, permanente.   Criado em : 30/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

PENA

  O incômodo move a pena que descreve a sentença mas antes exibe os argumentos A mão serviçal fiel descreve o momento narra a dor e a angústia de tudo expor sem nada poder fazer − É a impotência da denúncia ante a força do hegemônico Poder.   Criado em : 28/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

UNIVERSO DUAL

  Em um cenário praiadisíaco, o mar luta contra o rochedo e o rochedo contra o mar. Parece inglória essa peleja, a rocha, imponente, mostra-se soberana ante o indomável mar. Dia após dia, o rebater das águas, como o martelo na bigorna a retinir a indignação que nele pulsa, caleja inúmeras gerações, mas não cessa a realidade Severina. Luta-se para viver, vive-se para lutar! E como o deserto, o mundo e a humanidade possuem, em suas essências, a presença indelével da dualidade.   Criado em : 28/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

PLANO DIRETOR DO CAOS

  O legislador desenha retas no papel almaço: — Artigo 5º: a cidade será um compasso. O prefeito sorri, afrouxa a norma, e a cidade escorre pela encosta abaixo.   A lei é uma cerca de arame farpado contornando o vazio. O gestor é o operário da tarde que serra um pedaço do arame e vende, ao povo, por um voto, a chave do terreno.   (O terreno é íngreme, molhado, futuro alagado. Mas é um chão. Um não-chão. Um quase.)   E a periferia brota como erva daninha — a mais pura vegetação brasileira — sem esgoto, sem asfalto, sem número na casa. Só com promessa. A promessa é o alicerce que segura a parede de tábuas que cai.   E o gestor chega de carro oficial, pisa na lama, faz cara de pai. — Trago a ordem! — grita, apostemado. E a multidão aplaude o homem que quebrou o compasso e lhes vendeu o mapa do labirinto do descaso.   A lei? Ficou no papel, branca e nobre, como um defunto pronto para o velório. A cidade real, essa pulsa, cresce torta, feita de jeitos e de acert...

PARÁFRASE PÓS-MODERNA

  Para conhecer a si mesmo, comprar-se ao outro não é o melhor caminho.   Não precisa ser adivinho para ver que é fantasia a vida que o outro anuncia, que a comparação é uma farsa e a aparência, trapaça, que à transformação nenhuma levam.   Para conhecer a si mesmo, segue o seu próprio caminho de luz e de sombras, que o aprendizado não será a esmo, transformando-lhe, com sobras, mais um pouquinho.   Criado em : 27/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

TRANSITÓRIEDADE

  No museu das grandes novidades, uma tela me prendeu a atenção. De olhos fixos nela, fui jogado no limbo do tempo − Lapso imensurável! O presente se fez invisível; a ilusão, presente! E um mundo inexistente se tornou a minha realidade. Quanto tempo preso fiquei, isso não sei! Só com o apagar das luzes da ribalta, libertei-me!   Flavyann Di Flaff      27/9/2025

RAP DECODIFICADO

  QAP — na escuta das ruas, o rap capta o ruído da fome, a frequência da revolta, o silêncio da exclusão!   QRO — aumenta a potência, o grito vira batida, a rima vira denúncia; a palavra, resistência!   QSL — entendido, irmão: O rap traduz o invisível, decodifica o abandono e transmite a esperança!   Criado em : 27/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

CORRENTES INVISÍVEIS

Viveram para os aplausos, para o tilintar das palmas, para os olhos de vitrine que julgam, medem, consomem.   E sorriram falsos sorrisos, apertaram mãos geladas, ergueram máscaras de ouro em palcos de pó e silêncio.   Mas no fim — quando o eco da multidão se desfaz, quando a sala escurece e só resta o corpo cansado — descobrem o ferro nos pulsos: correntes invisíveis, forjadas por cada olhar buscado.   Não era vida, era servidão travestida de brilho.   E a morte, discreta, apenas confirma: ninguém é livre quando vive acorrentado à validação.   Criado em : 25/9/2025 Autor : Flavyann Di Flaff  

FALÁCIA DO MENOR MAL

  Entre as ruínas do voto, um eco sussurra: “Escolha o menor mal, o menos sujo, o mais brando.” Mas, no fundo, sabemos que o mal é um só, disfarçado de várias caras, vestindo trajes de esperança.   O menor mal? Ilusão cortante, faca que corta sem cortar, afasta sem afastar. No espelho, nada muda, apenas o reflexo de um jogo sujo entre as velhas oligarquias.   Entre os gritos, a apatia floresce: “Pelo menos, não é o pior.” E nos enredamos, como peixes sem água, no jogo do menor mal. Mas o mal, ah, o mal é grande demais para se esconder em comparações!   Somos todos vítimas de uma eleição que não controlamos, escravos de uma escolha que não fazemos por nossa própria decisão, mas pelas mãos de um sistema que vende promessas como quem vende ilusões.   E o menor mal? É só um espelho quebrado em que cada pedaço reflete uma mentira que repetimos, que acreditamos ser nossa verdade. Mas o mal nunca é pequeno, quando o nome dele é silêncio e o preço pago é o bem coletivo....