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PROVÉRBIO DESCONSTRUÍDO

 
O pai é um ser vazio de terno,
a mãe é um eco num aplicativo.
E a casa?
Em vez de lar,
é um mundo silencioso com Wi-Fi
onde a liberdade perniciosa se sobressai.
 
A escola — oh a escola —
Cumpriu datas,
vomitou conteúdos,
e não ensinou a enfrentar
a selva de pedra
onde os leões usam máscaras.
 
Mas a Aldeia...
Onde está a aldeia?
A aldeia virou uma ilusão
na tela de um smartphone,
é a buzina dos desesperados na rua,
o like de um “amigo” nas redes,
o muro pichado com bravatas.
 
A criança-espelho
procura um rosto para refletir,
e só encontra o abandono afetivo
(um buraco negro no peito)
e a escola descompromissada
(um diploma de nada).
 
E o provérbio africano?
É um suspiro,
um fóssil,
um verso solto
num mundo de prédios,
estáticos e frios,
que não se tocam jamais.
 
É preciso uma aldeia inteira,
porém, a aldeia foi desconstruída,
e a criança
— Projeto de vida de um ser cidadão —
é só um rascunho
na gaveta do esquecimento,
inviabilizado por muitos nãos.
 
Criado em: 12/10/2025 Autor: Flavyann Di Flaff

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