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OBJETIFICAÇÃO

Cansei de tentar agradar dona Modernidade!
Caprichosa, inventa novos desvarios,
e tudo isso para mim é muito custoso.
Gasto de minha existência em esforços vãos,
uma vez que não são devidamente reconhecidos,
mas sempre vistos como irrelevantes.
Dona Modernidade quer suor e lágrimas,
quer empenho incondicional
em prol de uma ilusória felicidade,
materializada em forma de coisas.
Nessa busca insana, coisificamo-nos.
Tornamo-nos certificados, diplomas,
em qualificações distintas e infindas,
para rejeições sequenciais futuras,
que tanto nos adoecem psicossomaticamente.
Assim, vamos esquecendo o que somos,
numa paulatina objetificação de nossa humanidade,
massacrados diariamente por uma culpa imposta,
visto que nenhum nefasto erro cometemos,
apenas lutamos até onde nossos limites permitiram
e, mesmo assim, a vitória nos foi sempre negada.
 
Criado em: 01/02/2020 Autor: Flavyann Di Flaff


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