Pular para o conteúdo principal

DIAS DA CRIANÇA QUE FUI

Hoje, fui ao porão do meu ser e revolvi o baú das minhas memórias pueris. Lá encontrei as imagens das inúmeras quedas que sofri, bem no sentido literal desse verbo, pois, quando se é criança, a gente sofre por ação, e não por reflexão – isso já é coisa de adulto, com suas quedas metafóricas. Caímos da árvore, do balanço, da cadeira, da cama, da bicicleta etc., mas sempre tínhamos, nessas horas, o eterno anjo da guarda, a nossa mãe.

Vasculhando, achei as representações da criatividade que fervilhava a minha mente ainda em formação, foram inúmeros brinquedos criados no fervor da vontade de brincar. Lembro-me dos rolimãs que buscava no sítio do meu avô para fazer os patinetes e, neles, acelerar na praça. Dos carrinhos feitos não só de lata de óleo de comida, arame, madeira, aspas de metal e rodinhas de sandálias Havaianas, mas também dos feitos com as latas de Leite Ninho, arame e cordão. Por fim, dos feitos com garrafas plásticas de água sanitária, arame e um pedaço de plástico fixado por um prego, para fazer barulho, todos eles frutos da imaginação criadora da infância.

Empolgado por tamanha nostalgia, encontrei as reminiscências das aventuras homéricas da infância. Elas me mostraram o tempo em que preparávamos as armadilhas para pegar os goiamuns, o caminhar pelos mangues para pegar os caranguejos-uçá no período de “andada”, durante os meses de janeiro e fevereiro, na maré baixa, como era fantástico cuidar deles no garajau! 

Lembrei-me das vezes em que saíamos a procurar, no mato, os ninhos dos paturis para pegar os ovos. Das caçadas que fazíamos nos resquícios da mata atlântica, que ainda existia aqui perto, onde, com baladeiras (estilingues), caçávamos saguis, camaleões, e sem me esquecer das arapucas que fazíamos e armávamos para pegar rolinhas. 

Meu Deus, quantas coisas vividas verdadeiramente, sem culpas ou receios, só o desejo e o prazer de as fazer, imperando naquele instante! 

Hoje, depois dessa viagem nostálgica, posso dizer, com toda convicção, que foi bom ter passado por essa fase inconsequente da vida, na qual não se media os riscos, nem antes, nem depois, já que só o que interessava e prevalecia era experimentar, vivenciar e contar a resenha, logo após de tudo feito, para os nossos coleguinhas e, assim, levarmos vantagem sobre eles.

Criado em: 12/10/2013 Autor: Flavyann Di Flaff


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LOOP FARAÔNICO

  De um sonho decifrado ao pesadelo parafraseado. A capa que veste como uma luva se chama representatividade, e a muitos engana, porque a vista turva. Ao se tornar conveniente, perde toda humanidade. Os sete anos de fartura e os de miséria, antes, providência pedagógica, hoje mensagem ideológica, tornando o que era sério em pilhéria. A fartura e a miséria se prolongam, como em uma eterna praga sem nunca ter uma solução na boca de representantes que valem nada. O Divino dá a solução, e esses homens nada fazem, deixando o povo perecer num infinito sofrer, pois, basta representar, para fortunas obterem. E, assim, de dois em dois anos, os sete se repetem, como num loop infinito de fartura de enganos.   Criado em : 1/6/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ILUSIONISTA DO AMOR

  O amante é um ilusionista que coloca a atenção do outro no ponto menos interessante, levando o ser amado a se encantar com o desinteressante. Quando o amante se vai, o amado age como um apostador, que, diante da iminência da perda, se desespera e tenta recuperar o que já foi. Mas, ao invés de encontrar o amor perdido, encontra apenas o reflexo de sua própria carência, como quem busca ouro em espelhos quebrados. Restando, então, ao amado, o desafio de enfrentar o vazio, reconhecer a ilusão e descobrir, enfim, que o verdadeiro amor começa, quando cessa a necessidade de iludir ou de ser iludido. Criado em : 14/11/2024 Autor : Flavyann Di Flaff

O JOGO DA VIDA

O jogo da vida é avaliado sob quatro perspectivas: a de quem já jogou e ganhou e desfruta da vitória, a de quem acabou de entrar, a de quem está jogando e a de quem jogou, perdeu e tem que decidir se desiste ou segue jogando. Quem jogou e ganhou, desfruta os louros da vitória, por isso pode assumir a postura que mais lhe convier diante da vida. Quem acabou de entrar no jogo, chega cheio de esperança e expectativas, que logo podem ser confirmadas ou frustradas, levando-o a ser derrotado ou a pedir para sair, permanecendo à margem, impotente diante da vida. Quem está jogando, sente a pressão da competição e, por isso, não se deixa levar por comentários de quem só está na arquibancada da vida, sem coragem de lutar. Quem jogou e perdeu, sente todo o peso das cobranças sociais pelo fracasso, por isso não se permite o luxo de desistir, pois sabe que tem que continuar jogando, seja por revolta, seja para se manter vivo nessa eterna disputa. Criado em: 20/11/2022 Autor: Flavyann Di Flaff