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DE UM DEVANEIO

Hoje mergulhei naquela antiga foto e me senti criança encantada diante de uma bela flor. Faltaram-me palavras – pura redundância − porque muitas palavras ainda eram inéditas à época para mim. Um ser em plena construção, assim eu era, enquanto você já debutava naquela ocasião.

Alguns anos de existência nos tornavam distantes, anos vividos de forma distinta, não pelo fato de sermos de sexos opostos, mas pelo ambiente familiar e o em que vivíamos, em que estávamos inseridos na época. Caminhos separados, não só pela distância, porém pelas situações, lugares, hábitos; enfim, por fatos, ocorrências, que nunca conspiraram para promover um eventual encontro nosso. 

Retendo-me, fascinado diante da sua jovial figura, imagino que, se este encontro tivesse ocorrido, nada do que agora os meus sentimentos atribuem, aconteceria. Você era jovem e eu, criança, nesse caso, no mínimo, eu seria ignorado e nem repararia no que acontecera.

Ontem criança e hoje um adulto, ambos enfeitiçados por alguém que sempre esteve distante; ou pelo tempo, que agora se encontra retido nessa imagem, ou devido a um sentimento que não fora reconhecido e que fez dessa presente viagem lúdica, um devaneio sem sentido. Já se faz tarde, aqui e no passado, e o que está retratado nessa imagem que me encantou, permanecerá eterno, toda vez que revê-la.

Criado em: 12/10/2013 Autor: Flavyann Di Flaff

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