Hoje, a criança, que fui e que estava adormecida, despertou! Acordou e, mansamente, surpreendeu-me conversando com a Paixão, aquela mesma que, outrora, tinha me visitado. Ato pueril que me deixou desconsertado, mas logo retomei o prumo e pude perceber, nos olhos daquele inocente ser, um brilho distinto. Como em toda criança, a espontaneidade é predominante, e, para não fugir à regra, lançou-se em meus braços, perguntando se podia brincar com aquela que me visitava. Tenso, tentei dissuadi-la de alguma forma, naquele momento, de tal vontade. Não lembro o que falei, porém a fez aquietar-se e não tirou os olhos da figura ali presente. Nesse instante, o diálogo que mantinha, já tinha ido para o espaço, pois a criança se tornara o centro das atenções. Na sala, só os olhares falavam, nada mais se fazia predominante. Tirei-a do colo e a pus no sofá, então me dirigi à Paixão, em tom de breve despedida, já que logo nos encontraríamos, a fim de continuarmos a nossa intermitente conversa. Em seguida, acompanhei-a até a porta e, com um ar interessado, despedimo-nos. Retornando ao interior de minha residência, percebi que, nesse ínterim, a minha criança adormecera novamente. Peguei-a nos braços e me dirigi ao quarto, lá chegando, cantei antigas canções de ninar, embalando-a em um sono que a levaria de volta ao interior do meu ser. Quanto a mim, não dormi nessa noite, só pensando no que dizer a ela em relação à paixão, que, nesses últimos dias, anda me visitando. Porque vi o quanto ouriçada ficou ao ver aquele etéreo ser, e não a censuro, posto que, até eu, aqui assumo, fiquei balançado diante dele. Como explicarei que não se brinca com algo tão forte, imprevisível e, de certa maneira, demolidor, como é a paixão? Ah, as crianças! Sempre aparecem nos momentos mais imprevistos e nos pegam em situações inexplicáveis, pelo menos, até nos recuperarmos do instante do flagra.
Criado em: 25/12/2013 Autor:
Flavyann Di Flaff
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