Quando as circunstâncias, que regem a vida em sociedade, são manipuladas pelas instituições que deveriam zelar por ela, para que a massa permaneça em constante estado de sobrevivência, a racionalidade perde espaço para o instinto, instalando-se o caos do alheamento da realidade definitivamente. Nesse sentido, mas indo de encontro a essa terrível consequência, Garcia Lorca, no ato de inauguração da primeira biblioteca pública na província de Granada, sua terra natal, pronunciou a seguinte frase:
“Nem só de pão vive o homem. Eu, se estivesse na rua esfomeado e desvalido, não pediria um pão. Pediria, isso sim, meio pão e um livro.”
Acerca do significado implícito nessa frase de Lorca, Odenildo Sena assim descreveu o seu processo de análise:
“Fechei os olhos e fiquei moendo e
remoendo a frase. Ora, se alguém está esfomeado, o impulso mais evidente é querer
matar a fome. Porque, como dizia minha Mãe, fome dói. Eu, se no lugar do
faminto, iria querer mesmo era resolver esse problema mais imediato. Afinal,
alguém poderia dizer que livro não enche o bucho de ninguém. Mas, com o passar
do tempo, a fome voltaria e eu iria ter que pedir outra vez um pão, não meio
pão. A situação se tornaria recorrente e viciante.
Talvez aí esteja o lado fascinante da
metáfora de Lorca. Com meio pão, eu
poderia aliviar um pouco a fome. Com meio pão e a leitura de um livro, eu poderia
aliviar um pouco a fome e entender o porquê de eu passar fome. E, entendendo o
porquê de eu passar fome, eu estaria também alimentando uma outra e necessária
fome: a fome revolucionária por justiça.”
Diante disso, reflito e chego à seguinte conclusão: Que tenhamos, mesmo diante dessa imposta e inglória luta pela sobrevivência, um pouco de consciência, para buscarmos os meios necessários para derrotarmos, de vez, esse estado miserável de vida.
Criado
em:
15/09/2024 Autor: Flavyann Di Flaff
Comentários
Postar um comentário