A criança, que um dia fui, acompanhou-me até
os quarenta e poucos anos. Depois, não sei o porquê, largou a minha mão e sumiu
sem explicação. Sentindo-me impotente, desesperado, caí em prantos. Descontrolado,
comecei a mal dizê-la, rogando-lhe pragas terríveis. Desde então, fechei a cara
e o coração! Segui batendo o ponto, seguindo o horário, cumprindo as
prerrogativas do subsistir.
Com o tempo, tornei-me escultor, talhando, na mágoa, um frio coração. Mas que, ao se lembrar do nada em que se tornou, é quebrantado por uma nostalgia – saudade imensa da criança que se foi. Então, faz-se carne, só para sentir a imensa vontade de voltar no tempo e compreender aquela súbita partida. Quem sabe, assim, consegue a paz para os seus últimos dias – já que um resgate parece-lhe uma missão impossível – e quando da sua viagem, possa dizer com convicção: “Quando me for deste mundo, partirão duas pessoas. Sairei, de mãos dadas, com essa criança que fui.”
Criado em:
02/02/2022 Autor: Flavyann Di Flaff
Comentários
Postar um comentário