Por longos anos a fio fui forjado na convivência
com a liquidez da vida. O fluxo tranquilo e perene que levava, fizera-me senhor
dos lagos e rios, não havia, portanto, leito ou qualquer outro percurso fluvial
que me surpreendesse.
Certo dia, percorrendo as águas do flume
principal do meu viver, dominado pela segurança frágil que por mim fora
internalizada, não percebi que as águas se agitavam, como quando o amante
encontra o ser amado, ficando em pleno estado de êxtase. Então o rio encontrou
o mar! E eu que, naquela altura da vida, pensava ser um velho lobo, vi-me como
um recém-nascido pronto para o batismo, não mais em águas tranquilas, mas em
revoltas e inconstantes águas.
As águas do mar da vida me receberam com
severidade, dando-me uma pequena e breve demonstração de seus poderes. Dali em
diante, nada do que vivera me serviu de instrumento para contornar as
intempéries. Frustrações pessoais me levaram a um inevitável naufrágio e, até hoje, ainda me encontro à deriva, sem ter rumo certo nesse imenso mar da vida.
Criado em: 28/11/2019 Autor:
Flavyann Di Flaff
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