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ALEGORIA

Para este período momesco, busquei no baú guardado nos porões do subconsciente, a fantasia produzida há meses. Nela, não economizei adereços. Tinha de tudo um pouco, olhos brilhantes, sorriso de marfim, pele de seda, palavras sedutoras, gestos insinuantes, fios de cabelos d'ouro, oportunidades subestimadas, tempestades em copo d’água, e afins. Enfim, adornos em perfeita harmonia para este projeto.
            O tríduo momesco enseja alegria. Para tanto, tem-se que vestir a fantasia com todo entusiasmo folião. Ainda ressabiado, pois, prometera a mim mesmo, que a deixaria guardada, sem mais nada a ela acrescentar, fui permitindo que aquele me tomasse por completo, e quando percebi, já estava repleto de toda aquela felicidade fugaz, típica da ocasião.
Nas marchinhas vivenciei um saudosismo, que, até então, pensei não mais sentir. Toda a festa era um misto de futuro do pretérito com um presente indicativo de coisas boas por vir. Assim foram os três dias de momo, cheios de emoções e sensações fugazes. No fim, sem fogo e sem fazer fumaça, toda aquela fantasia produzida ao longo de meses, numa quarta-feira ingrata, transformou-se em cinzas.

Criado em: 15/02/2015 Autor: Flavyann Di Flaff

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