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PROVÉRBIO DESCONSTRUÍDO

  O pai é um ser vazio de terno, a mãe é um eco num aplicativo. E a casa? Em vez de lar, é um mundo silencioso com Wi-Fi onde a liberdade perniciosa se sobressai.   A escola — oh a escola — Cumpriu datas, vomitou conteúdos, e não ensinou a enfrentar a selva de pedra onde os leões usam máscaras.   Mas a Aldeia... Onde está a aldeia? A aldeia virou uma ilusão na tela de um smartphone , é a buzina dos desesperados na rua, o like de um “amigo” nas redes, o muro pichado com bravatas.   A criança-espelho procura um rosto para refletir, e só encontra o abandono afetivo (um buraco negro no peito) e a escola descompromissada (um diploma de nada).   E o provérbio africano? É um suspiro, um fóssil, um verso solto num mundo de prédios, estáticos e frios, que não se tocam jamais.   É preciso uma aldeia inteira, porém, a aldeia foi desconstruída, e a criança — Projeto de vida de um ser cidadão — é só um rascunho na gaveta do esquecimento, inviabilizado por muitos nãos....
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REINO CUSTOMIZADO

Dai a César, dai a Deus. E dai um pouco de lucidez a quem mistura o altar com o palanque.   Entre a cruz e a coroa, alguém sempre calcula o lucro da fé. Jesus fala de espírito, mas o homem traduz em materialismo.   Erguem-se templos — não de pedra, mas de poder. A palavra vira senha; o sagrado, propaganda.   O Cristo que perdoa vira slogan de campanha. O amor, que era verbo, vira fronteira moral, carimbo de pureza na testa dos “eleitos”.   O Reino... não cabe em palácio, nem em parlamento. Mora quieto, no espaço miúdo onde a consciência respira.   Mas o homem quer tocar o divino com as mãos sujas de poder, quer santificar a própria ambição, quer fundir fé e força, trono e tabernáculo.   E o resultado? Um Deus customizado, feito à imagem e à semelhança dos interesses de sempre.   Se o mundo soubesse — fé é para o íntimo, política é para a rua — talvez cessasse o ruído de quem fala em nome do céu, mas mira o reino da terra.   O Reino de Cristo conti...

DISTOPIA

  O movimento surge de uma utopia, Depois, firma bandeira de alguma ideologia São muitos quereres pra quem nada tinha. Assim, toma corpo, adquire força. Desfila em carro aberto, Canta frases de efeito, Vandaliza o status quo , Comercializa participações, Gera capital simbólico e material. Transforma-se em outdoor , vende o orgulho estilizado − Commodity cobiçada, ambição desmensurada. Já não há marcas da utopia, prevaleceu a distopia − Opressão hegemônica do capital, retrato da instrumentalização habitual.   Criado em : 8/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

SER PERCEPTIVO

  Não insista em contextualizar Teorizar minúcias cotidianas Criança disso nada entende Ela só percebe a presença Dos pais Dos afetos Da segurança A ausência não é despercebida De forma desmedida Gera distância Gera desafetos Gera inseguranças Assim, a infância É autoconstrução na observação Do diferente Dos outros Afinal a vida é prática Não é feita de conceitos abstratos Descartáveis no simples contato Com as coisas reais do mundo   Criado em : 7/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ASCENSÃO ENLATADA

  Para toda jovem revolta periférica, um mimo de grife hypada − Entrada para o higt society da espetacularização. A vida em sua plenitude instrumentalizada, baseada no “quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza!” Se nada tive quando na pobreza estive, agora enquanto celebridade, liberto-me, realizando todos desejos, conquistando as coisas que não possuía. Crescimento vertiginoso, travestido de status e ostentação, sempre à margem da real ascensão. Cresci no vaso da ignorância, ferramenta eficaz do sistema − Cresço como mercadoria, e não morro como periferia. Viva la vida loka! − Instintos abundantes, consciência pouca. Existência supérflua e breve − Carpe Diem pervertido.   Criado em : 7/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ÓCIO REFLEXIVO

  E, na luta contra os moinhos de vento, ocorre uma pausa. Nesse breve ócio, um momento de reflexão: Como são enormes esses monstros indomáveis! Como vencê-los, se não tenho controle sobre eles? Nessa luta insólita, quanto ainda resistirei? A Existência não me é amiga, avisou-me do tempo breve. Assim, ou sucumbo na luta, ou me arrasto ao longo da vida que me resta.   Criado em : 6/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

ECO DOMESTICADO

  Toda revolta nasce pura, feito um grito que desconhece o eco. Mas o eco vem — e o sistema o grava, o edita, o vende.   O punho cerrado vira logotipo; a bandeira, estampa. A raiva é playlist; a utopia, anúncio.   E o homem, cansado de lutar, compra sua própria esperança em módicas prestações.   Ainda assim, há quem sonhe. Há quem insista em gritar, mesmo sabendo que o eco virará mercadoria. Porque, talvez — só talvez — no intervalo entre o grito e o lucro, a verdade ainda respire, negando o espetáculo de seu próprio luto.   Criado em : 6/10/2025 Autor : Flavyann Di Flaff